Afinal, qual o significado da palavra diversão?
Segundo alguns dicionários não tão bem conceituados,
diversão encontra-se relacionado com distração, divertimento, entretenimento,
passatempo ou recreio. Na minha concepção pessoal, diversão é tudo aquilo que
faz você se sentir bem.
Nem sempre a diversão está relacionada à alegria ou
felicidade, ao contrário do que alguns imaginam. Quando pegamos a diversão em
seu significado “entretenimento”, vemos que muitas vezes a diversão pode estar
relacionada á melancolia ou tristeza. Por vezes você passa seu tempo escutando
músicas melancólicas de Phil Collins ou assistindo um filme triste de romance.
Até mesmo o ódio e a revolta podem ser encontrados no meio
dessa diversão ou entretenimento. Músicas de revoltas de bandas como Titãs,
Engenheiros do Hawaii, Rammstein, entre outras, também podem ser considerados
como uma forma de entretenimento, ao ponto de que a revolta ou ódio gerado por
elas, te passa uma sensação de bem estar.
O ódio como bem estar pode até parecer algo contraditório.
Mas não é tão incomum assim. Não precisamos voltar às teorias de Hobbes sobre o
instinto humano de destruição natural para perceber esse fato. Esse ódio também
não transforma alguém em um sociopata e possível assassino. É natural humano se
sentir bem por odiar e expressar esse ódio sobre aquilo que te afeta. Michael
Moore é a prova disso.
Logicamente, vivendo em uma sociedade organizada e
caminhando para tornar-se humanitária, temos que controlar de algumas maneiras
esse ódio, não o transformando em violência. Mas ódio é o descontentamento e o
descontentamento é o que move a humanidade para frente. Então se torna óbvio
que nosso entretenimento possa se apoderar desse ódio, sendo ele algo cultural
e fruto da nossa realidade.
Às vezes a diversão acaba empregando patamares socialmente
incompreensíveis para alguns. É o caso de quando a diversão mistura-se com seu
trabalho ou com seu estudo. Acho incrível (e bizarro, na minha concepção),
quando alguém destila seu “veneno” contra aqueles que dizem se divertir
estudando ou que acusam como falsa e contraditória a ideia de que você se
diverte com o seu trabalho, utilizando o velho argumento de que “Ninguém se
diverte trabalhando”.
Ao contrário do que esses pensam, é muito interessante
quando a diversão e a virtual obrigação (que nesse estágio já não pode ser
compreendida como obrigação pura) confundem-se ou quando essa diversão é
utilizada como meio de fazer algo útil socialmente, mesmo que geralmente
incompreendido.
Não posso esquecer-me do problema social e cultural que
existe na diversão, pelo qual eu já passei. Por vezes a cultura acaba por
esmagar a diversão pura, fazendo com que um modelo de diversão culturalmente
aceito acabe regendo as atitudes de entretenimento de um indivíduo. É o caso de
algumas “baladas” ou “shows”, considerados meios quase que divinos de diversão.
Muitas vezes pessoas vão a alguns lugares, seguindo a onda cultural, e não se
sentem necessariamente bem com isso, mas continuam indo a tais eventos por ser
algo culturalmente aceito e bem visto.
Isso se apresenta como um problema antigo. A cultura
dominante acaba por se sobrepor sob o indivíduo. Algo que também pode ser visto
entre as classes mais altas, onde o entretenimento dominante pode ser a ópera,
por exemplo, e algumas pessoas vão a ela apenas pela pressão cultural, mesmo
percebendo-a como algo que não gera nenhum bem-estar para essa pessoa.
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Calvin sentia-se muito melhor brincando solitariamente com seu amigo imaginário, do que com qualquer grupamento de pessoas. |
Então chegamos a outro nível de problemática cultural da
diversão. Quando a pressão cultural gera uma patologia clínica. A pessoa que
não segue a tendência pode ser considerada anormal e posta sob a tutela de um
psicólogo para a “normatização” humana, algo no mínimo questionável em uma
sociedade pluralista e que apresenta cada vez mais traços multiculturais.
Felizmente, hoje muitos profissionais dessa área fazem um estudo detalhado
sobre o caso e preferem rejeitar aplicar o tratamento para algumas pessoas, mas
não nos veremos livres dos oportunistas tão cedo.
Atualmente, no Brasil e no mundo, vemos a diversão sendo
relacionado pelo grupamento social. Uma das explicações apresentadas para isso
está no nosso modelo de produção empregado nos últimos séculos. A
industrialização trouxe a necessidade do trabalho em equipe, com um indivíduo
vendo-se responsável por uma parcela do trabalho final. Então é óbvio que isso
acabaria criando um relacionamento e quanto melhor esse relacionamento, os
níveis de produtividades poderiam aumentar. O Fordismo, que se preocupava muito
com o bem estar do seu trabalhador, como forma de garantir um pleno
funcionamento da linha de montagem, acabou empregando, em parte artificialmente
e em parte naturalmente, o entretenimento conjunto, que já ocorria
anteriormente em outros trabalhos que envolviam atividades em grupo, mas virou
o padrão, nessa época. Qualquer um que não se entretinha em grupo, era
considerado um sujeito fora do padrão de normalidade.
Esse comportamento também foi passado para os escritórios,
que formaram equipes de trabalho em grupo e que seguiram a lógica do
entretenimento grupal, transformando nossa sociedade em uma sociedade de
entretenimento coletivo.
E é esse comportamento que remete aos dias de hoje. A pessoa
que se diverte sozinha, seja lendo, assistindo um filme ou simplesmente saindo
por aí, não necessariamente ficando alegre, mas se sentindo bem com aquilo,
acaba sendo observada como anormal e sendo relacionada com várias patologias psicológicas
diferentes, causado pela sensação de que não esteja inserida no grupo e, não
estando inserida no grupo, não acrescente nada socialmente.
Isso não poderia estar mais errado. Muitas pessoas sentem-se
mais confortáveis sozinhas e isso deveria ser compreendido como comum. Algumas
empresas mais visionárias já observam isso na produtividade de trabalhos, em
que, muitas vezes, uma pessoa solitária acaba gerando um resultado muito mais
satisfatório do que aquelas que trabalham muito bem em equipe.
E posso ainda dizer o contrário do senso comum, ao observar
pessoas que se transformam em verdadeiras máquinas de autodestruição quando em
coletivo e apresentam-se como pessoas muito mais agradáveis e com um melhor bem-estar
quando em ambiente privado.
Esse fato apresentado acaba valendo para a diversão também
(tema dessa postagem, caso tenham esquecido). Por vezes você acaba se
divertindo, sentindo-se bem, muito mais quando está sozinho ou acompanhado de pouca
gente, mas a pressão cultural acaba por afetar isso. Uma dica importante para
isso é: vença o medo da “anormalidade”, pegue um livro, um bom filme (pode ser
um ruim também) ou qualquer outra coisa e divirta-se, se achar que isso faz com
que você se sinta bem.
Mas se quiser continuar no entretenimento coletivo e sentir
que isso faz você se sentir melhor, sinta-se livre, apenas aprenda a observar
que a diversão é mais uma das muitas relatividades da vida. No fim, tudo o que
você necessita é se encontrar e encontrar aquilo que faz você se sentir bem e
confortável.
Escrito por alguém que se livrou do engano, encontrou-se e
hoje diverte-se ao escrever e fazer aquilo que ama. Muitas vezes, o normal é
ser anormal e vice-e-versa. Aconselho a leitura do livro “Eu Sou a Lenda”, para
compreender essa frase, mas não aconselho o filme, que não chega nem próximo da
maestria do livro.
Atualizado as 14:32 de 09/03/2012 para colocar essa música que mostra o que é esse texto
Atualizado as 14:32 de 09/03/2012 para colocar essa música que mostra o que é esse texto
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