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26 de fevereiro de 2012

“O início, o fim e o meio” da política brasileira


Capa do álbum Gita, de Raul Seixas.

“Eu sou o início, o fim e o meio” já dizia Raul Seixas há muitos anos atrás em sua música “Gita”. Raul por meio de musicalidade invertia a ordem lógica do jogo da vida, colocando o fim antes do meio. Fazendo isso, ele aproximou-se muito daquilo que os nossos políticos fazem hoje, também invertendo essa ordem lógica.

Mas qual seria a ordem lógica? Para explicar melhor, terei que dividir pelos três fatores da história, colocando-os em ordem contrária. Utilizarei uma explicação muito pedagógica para isso.

O “fim” da política, aquilo que tem que ser seu objetivo primordial, é administrar o Estado e zelar pelo bem estar da população, planejando e atuando tendo esses dois fatores como objetividade. E esse é o fim da política, que deve acabar nesses dois pontos. Logicamente, ambos dependem da visão do detentor do poder, que define o que é uma boa administração e que pode proporcionar o bem estar da população.

O “meio” da política é o caminho utilizado para se chegar a isso. Simplificando as coisas, podemos afirma que o meio da política é a campanha eleitoral e a eleição. O “meio” da política é a chegada ao poder, que propícia que o “fim” da política seja possível.

O início desse processo político é o candidato. A pessoa que deve desejar alcançar o “meio” (poder), para atingir o fim (administração e bem estar). Essa pessoa se resume em tudo. Seus pensamentos, suas ações, sua história. Todos os fatores da vida de quem deseja o poder encontra-se atrelado ao “início” da política. Se um desses N fatores da vida dessa futura pessoa pública não condizer que o poder que ela anseia, ela estaria desvinculada do “fim” da política.


Mas isso é muito belo, infelizmente, apenas no meu pensamento. Nossa realidade é bem diferente. Se passarmos brevemente pelo início, vemos que não é isso o que ocorre na realidade. Seria um dever da população o de decidir se os futuros detentores do poder se encaixam no tipo de pessoa necessária para assumir tal poder. Como isso não ocorre e a população não cumpre o seu papel de definir quem passará pelo início da política, projetos como o “Ficha-Limpa” torna-se uma perversão necessária, por ir contra uma série de conceitos primordiais moldados pela nossa história, mas garantir em parte que o “início” da política torne-se viável.

Mas é na troca de ordenação entre o fim e o meio que ocorre a real perversão da política. O “fim” da política passa a vir antes do meio, na visão dos candidatos ao poder. A administração do Estado e o zelo pelo bem estar da população, tornam-se apenas uma ponte para a chegada ao poder. Por vezes os dois fatores finais da política são subjugados, ficando a chegada ao poder à cargo de outros fatores, como o carisma ou o jogo político.

José Serra
Isso pode ser exemplificado agora pelos comentários do ex-pré-candidato à prefeitura de São Paulo, Andrea Matarazzo, que segundo a Folha Online, abandonou as prévias do partido para dar seu “apoio a Serra como o candidato capaz de unificar o partido e vencer as eleições”.

Nessa frase podemos ver um exemplo da perversão da política. Com o poder tornando-se mais importante do que a finalidade da política. Matarazzo garante que a importância fundamental é manter o poder nas mãos do seu partido. Não interessa se os projetos e o pensamento de Serra sejam diferentes dos dele. Em nenhum momento Andrea fala sobre acreditar ou concordar com os princípios de José Serra. A única coisa que importa parece ser a manutenção do poder.

Mas não se engane, pois isso não ocorre apenas em ninho tucano. Vários outros já fizeram a mesma coisa, mantendo, quando não é possível sua reeleição, o poder nas mãos de afilhados políticos ou familiares. O caso da família Sarney exemplifica bem isso.

Vale frisar que talvez eu esteja enganado, como me enganei com a nossa atual “presidenta” Dilma Rousseff. De início acreditei que ela era apenas uma forma de Lula se manter no poder do Brasil, mas, observando as atitudes de Dilma e o afastamento de Lula do poder, podemos perceber que isso parece não ter ocorrido, com Dilma demonstrando diferenças cruciais, como o afastamento do Irã e os punhos de ferro com seus ministérios.

Mas admito meu erro, por Dilma ser uma candidata nova, quase desconhecida nos meios políticos e sem nenhuma experiência anterior que demonstrasse suas atitudes como líder. Já com Serra, podemos analisar todo um passado e constatar que o poder parece ser o objetivo primordial de sua candidatura.

A lógica novamente não é seguida, tendo o que seria o “meio” lógico da política sendo transformado em finalidade e o seu “fim” tornando-se o meio ou sendo simplesmente ignorado.

Isso não é algo novo. Ocorre há tempos. Talvez você possa pensar a minha lógica como sendo algo irreal e sonhador, mas não viveríamos muito melhor se ela fosse respeitada?

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