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Capa do álbum Gita, de Raul Seixas. |
“Eu sou o início, o fim e o meio” já dizia Raul Seixas há
muitos anos atrás em sua música “Gita”. Raul por meio de musicalidade invertia
a ordem lógica do jogo da vida, colocando o fim antes do meio. Fazendo isso,
ele aproximou-se muito daquilo que os nossos políticos fazem hoje, também
invertendo essa ordem lógica.
Mas qual seria a ordem lógica? Para explicar melhor, terei
que dividir pelos três fatores da história, colocando-os em ordem contrária.
Utilizarei uma explicação muito pedagógica para isso.
O “fim” da política, aquilo que tem que ser seu objetivo
primordial, é administrar o Estado e zelar pelo bem estar da população,
planejando e atuando tendo esses dois fatores como objetividade. E esse é o fim
da política, que deve acabar nesses dois pontos. Logicamente, ambos dependem da
visão do detentor do poder, que define o que é uma boa administração e que pode
proporcionar o bem estar da população.
O “meio” da política é o caminho utilizado para se chegar a
isso. Simplificando as coisas, podemos afirma que o meio da política é a
campanha eleitoral e a eleição. O “meio” da política é a chegada ao poder, que
propícia que o “fim” da política seja possível.
O início desse processo político é o candidato. A pessoa que
deve desejar alcançar o “meio” (poder), para atingir o fim (administração e bem
estar). Essa pessoa se resume em tudo. Seus pensamentos, suas ações, sua
história. Todos os fatores da vida de quem deseja o poder encontra-se atrelado
ao “início” da política. Se um desses N fatores da vida dessa futura pessoa
pública não condizer que o poder que ela anseia, ela estaria desvinculada do “fim”
da política.
Mas isso é muito belo, infelizmente, apenas no meu
pensamento. Nossa realidade é bem diferente. Se passarmos brevemente pelo
início, vemos que não é isso o que ocorre na realidade. Seria um dever da
população o de decidir se os futuros detentores do poder se encaixam no tipo de
pessoa necessária para assumir tal poder. Como isso não ocorre e a população
não cumpre o seu papel de definir quem passará pelo início da política,
projetos como o “Ficha-Limpa” torna-se uma perversão necessária, por ir contra
uma série de conceitos primordiais moldados pela nossa história, mas garantir
em parte que o “início” da política torne-se viável.
Mas é na troca de ordenação entre o fim e o meio que ocorre
a real perversão da política. O “fim” da política passa a vir antes do meio, na
visão dos candidatos ao poder. A administração do Estado e o zelo pelo bem
estar da população, tornam-se apenas uma ponte para a chegada ao poder. Por
vezes os dois fatores finais da política são subjugados, ficando a chegada ao poder à cargo de
outros fatores, como o carisma ou o jogo político.
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José Serra |
Isso pode ser exemplificado agora pelos comentários do
ex-pré-candidato à prefeitura de São Paulo, Andrea Matarazzo, que segundo a
Folha Online, abandonou as prévias do partido para dar seu “apoio a Serra como
o candidato capaz de unificar o partido e vencer as eleições”.
Nessa frase podemos ver um exemplo da perversão da política.
Com o poder tornando-se mais importante do que a finalidade da política.
Matarazzo garante que a importância fundamental é manter o poder nas mãos do
seu partido. Não interessa se os projetos e o pensamento de Serra sejam
diferentes dos dele. Em nenhum momento Andrea fala sobre acreditar ou concordar
com os princípios de José Serra. A única coisa que importa parece ser a manutenção
do poder.
Mas não se engane, pois isso não ocorre apenas em ninho
tucano. Vários outros já fizeram a mesma coisa, mantendo, quando não é possível
sua reeleição, o poder nas mãos de afilhados políticos ou familiares. O caso da
família Sarney exemplifica bem isso.
Vale frisar que talvez eu esteja enganado, como me enganei
com a nossa atual “presidenta” Dilma Rousseff. De início acreditei que ela era
apenas uma forma de Lula se manter no poder do Brasil, mas, observando as
atitudes de Dilma e o afastamento de Lula do poder, podemos perceber que isso
parece não ter ocorrido, com Dilma demonstrando diferenças cruciais, como o
afastamento do Irã e os punhos de ferro com seus ministérios.
Mas admito meu erro, por Dilma ser uma candidata nova, quase
desconhecida nos meios políticos e sem nenhuma experiência anterior que
demonstrasse suas atitudes como líder. Já com Serra, podemos analisar todo um
passado e constatar que o poder parece ser o objetivo primordial de sua
candidatura.
A lógica novamente não é seguida, tendo o que seria o “meio”
lógico da política sendo transformado em finalidade e o seu “fim” tornando-se o meio
ou sendo simplesmente ignorado.
Isso não é algo novo. Ocorre há tempos. Talvez você possa
pensar a minha lógica como sendo algo irreal e sonhador, mas não viveríamos muito
melhor se ela fosse respeitada?
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