Fui obrigado a postar o texto de Fábio Yabu, autor da série de livros Princesas do Mar, adaptado para a animação de mesmo nome, transmitida pelo canal pago Discovery Kids, devido a qualidade das idéias do paulista da baixada santista.
Uma dissertação genial sobre a leitura no Brasil.
O texto foi retirado do Blog do autor,Yablog.
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De tanto gostar de livros,
em 2004 lancei o meu. Aquilo foi tão bom que em 2006 lancei o segundo, depois
não parei mais. E mesmo não sendo nenhum best-seller, ano após ano vi meus
lançamentos receberem mais gente e mais abraços, em livrarias cada vez mais lotadas.
Se brasileiro não gosta de ler, o que toda essa galera estava fazendo lá?
Uma dissertação genial sobre a leitura no Brasil.
O texto foi retirado do Blog do autor,Yablog.
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Durante a minha vida
inteira, ouvi que brasileiro não gosta de ler. Mas por algum motivo, ao menos
no microcosmo em que vivi a infância e a adolescência – com pai e mãe
professores – aquilo não parecia verdade. Por isso, sempre encarei a afirmação
com certa cautela, como uma criança que vê um Papai Noel magrelo distribuindo
pirulitos em frente a uma loja de móveis no verão.
Hoje, às vésperas de
lançar meu 13º livro, acho que entendo um pouco melhor as complicadas
estatísticas do mercado editorial brasileiro. Um mar de achismos e nenhuma
auditoria que, segundo a FIPE, cresceu 150% na última década. Será mesmo que
brasileiro não gosta de ler? Ou será que o velho mantra é a justificativa dos
empedernidos para a própria iletralidade?
De acordo com o Insituto
Pró-Livro, o Brasil tem cerca de 77 milhões de pessoas que não leem – e ponto.
Nem Turma da Mônica. Não leem porque não gostam, não têm tempo, dinheiro ou
mesmo por não saberem como. Em compensação, há 95 milhões de pessoas que leem,
em média, 4 livros por ano, até 6 no sul do país. Aparentemente são números
modestos, ou até vergonhosos para alguns, frente aos países mais ricos (nem
tanto hoje em dia). E é aí que o preconceito começa a disfarçar-se de lógica.
Pobre não gosta de ler?
A primeira e precipitada
conclusão é que, se a pessoa é mais rica, ela lê mais, certo? Mais ou menos.
Segundo o mesmo estudo, embora a classe A consuma mais livros per capita, ela é
responsável por somente 5% (!) do total das vendas no país. É a classe C – em
especial, suas mães – quem leva para a estante de casa nada menos que 47% dos
livros vendidos. Se você está lendo esse texto, é provável que tenha o hábito
de atualizar seu Twitter num smartphone enquanto aprecia um cappuccino ao som
da Adele numa Fnac da vida, antes de dar uma olhadinha nos novos modelos de TV 3D.
Talvez você tenha em casa a edição encadernada de “O Senhor dos Anéis”. Mas as
chances são de que, nesse universo de megastores, boxes luxuosos e leitores
digitais, seja justamente você a puxar a média nacional pra baixo.
Porque a classe C gosta
sim de ler. Basta ir a uma Bienal do Livro para testemunhar filas infindáveis
em praticamente todos os stands. No da Ciranda Cultural, cujos preços começam
na casa dos R$ 5, ouvi do presidente da editora: “Não estamos mais aceitando
cartões nos pagamentos porque não dá tempo de processar.” – enquanto devolvia
troco para uma nota de 10, tentando agilizar uma fila que já invadia os stands
vizinhos.
Por incrível que pareça,
ainda tem gente que torce o nariz para livro “barato”. Eu bato palmas. Porque,
ao contrário de todos os outros bens de consumo, o livro não é segmentado por
critérios econômicos ou sociais. Dá para comprar Machado de Assis por R$ 1,00
em qualquer sebo, dá para baixar de graça (e legalmente) na Internet e dá pra
comprar exatamente o mesmo livro por R$ 50,00 na mais esnobe livraria. Mas a
partir do momento em que o livro é aberto, não existem mais páginas amareladas,
telas brilhantes ou cheirinho de novo. O objeto torna-se invisível e seu dono
torna-se um leitor.
Jovem não gosta de ler?
Muito difundido também é o
mito de que “jovem não lê”. Chega a ser redundante refutar essa afirmação,
frente a fenômenos como Stephanie Meyer, Suzanne Collins e Meg Cabot, tão
frequentes que já deixaram de ser exceção e posicionaram os jovens de até 24
anos como o maior público leitor do país. E não é só de autor importado que os
jovens gostam. Pergunte a Thalita Rebouças, que já passa de 1 milhão de
exemplares vendidos. Ou então à jovem Paula Pimenta. Mineirinha que é, segue os
passos de Thalita e vai conquistando de mansinho os adolescentes com seus
calhamaços de 400 páginas que já venderam mais de 50 mil cópias. Sem falar em
Eduardo Spohr, cujo “A Batalha do Apocalipse” surgiu como produto de nicho na
Internet e hoje pode ser encontrado em caixas de supermercado e catálogos de
vendedoras da Avon. Essas simpáticas senhoras, como a sua Tia Sueli, que
complementam o orçamento revendendo perfumes e cosméticos, disputam com a
Saraiva o posto de maiores vendedoras de livros do Brasil, com faturamento
bruto anual na casa dos R$ 360 milhões. É, a Tia Sueli.
Quem gosta de ler, afinal!?
Como veem, “brasileiro não
gosta de ler” é uma oração cheia de vírgulas, interpretações e sujeitos
ocultos. A generalização burra de um universo composto por exceções, repleto de
oportunidades para editoras, autores e leitores.
Tem brasileiro que gosta
de ler, tem brasileiro que não gosta. Eu gosto. E você?
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Não chego a alimentar diretamente essas estatísticas de livro novos, sou adepto dos sebos, tem que procurar bem, mas geralmente da para encontrar muita coisa boa e o melhor, por preços muito acessíveis. Tenho que admitir, o cheiro de livro novo, recém aberto, é maravilhoso, chega quase ao êxtase de abrir a caixa de um MacBook zerado(tem até uma fragrância sendo vendida para quem quer reviver esse momento) mas diferente do MacBook, o livro, quando você abre e começa a leitura tudo isso é esquecido, deixado de lado e você mergulha em um mundo novo onde se o livro tem cheiro de novo, as paginas são branquinhas, ou até mesmo se tem capa ou não, não importa, afinal você mergulha em um universo totalmente novo(falo isso por que tenho um livro velho, sem capa, mas que realmente gostei de ler, eu o achei abandonado num ponto de ônibus(depois posto uma foto dele)). Algumas vezes nem livro tem, eu por exemplo costumo ler alguns títulos diretamente no celular, vou ter problemas de visão futuramente por esse ato, mas confesso que nem ligo, pois de muitos livros que li no celular, acho que realmente não leria nem metade se dependesse de encontra-los em sebos, pois são difíceis de se achar, Eoin Colfer por exemplo, muita gente não gosta dele, é difícil de encontrar em sebos, só dele foram 14 livros que li. Douglas Adams é outro caso, mas esse é diferente, ultimamente a procura pelos livros dele aumentou consideravelmente e realmente desapareceram os exemplares disponíveis nos sebos(foram comprados)...
ResponderExcluirEnfim brasileiro lê sim!
Não li nada de novo nesse artigo. Aliás, eu sou um dos que diz "brasileiro não gosta de ler".
ResponderExcluirMas é claro que isso não é uma generalização, óbvio que existem exceções...
E esse dado de "brasileiro lê em média 4 livros por ano", até onde eu sei, são 4 livros, mas desses 4, só 2 são lidos até o fim. EM 1 ANO!!!
Se formos mais a fundo, veremos também a qualidade da leitura, que em boa parte dos casos, não passam de livros modistas e sem profundidade literária. Livros do tipo que fazem sucesso porque alguém leu no BBB, que dizem como emagrecer milagrosamente, como conquistar a pessoa amada, para entender seu signo do zodíaco, etc...
Sem falar na grande parcela de jovens que são OBRIGADOS a ler livros exigidos por seus professores, onde a maioria lê contra a vontade e algo que não gosta. Isso só ajuda ainda mais a afastar novos leitores.
Eu continuo achando nosso país uma colossal vergonha no quesito leitura, até que alguém me prove o contrário.