Começo de ano e entre o vai-e-vem do futebol, o Big Brother Brasil, a preparação
para o carnaval e as resoluções de ano novo, temos o prazer de informar que
tudo parece igual ao ano anterior.
E o ano não começa muito bem para a nossa polícia. Dois fatos a marcaram
negativamente nessa segunda semana do ano.
Logo após toda a confusão do ano passado sobre a ocupação do prédio da
USP e a consequente desocupação com uma força policial digna de filmes hollywoodianos, parece
que a polícia na USP começa a cometer seus erros, já alertados pelos estudantes. Um policial foi flagrado
agredindo um aluno negro, dentro da universidade de maior renome do país, sendo filmado. Confira o vídeo abaixo:
Já em Teresina, no Piauí, policiais entraram em confronto com estudantes,
que protestavam pacificamente contra o aumento do valor do passe de ônibus. Ainda tivemos a tropa de choque da polícia no confronto.
Nos dois vídeos vemos coisas já conhecidas (e muito) por todos. A
polícia autoritária e despreparada para agir em algumas situações, utilizando
forte força repressora quando não é necessário. Em ambos os casos, tivemos uma
semelhança: a presença de estudantes. Algo que ajudou com a divulgação dos vídeos.
Que a polícia já costuma agir dessa forma há anos, não é segredo para
ninguém, mas geralmente isso acontece contra camadas menos favorecidas, que,
por vezes, não tem força ou conhecimento para lutar pelos seus direitos,
sofrendo sérios riscos de sofrer represálias das forças policiais quando
tentam fazer valer os seus direitos..
Não podemos atacar toda a força policial do Brasil. Existem muitos
policiais agindo de maneira justa e ética ao redor do país, mas, infelizmente,
eles parecem ser sufocados por policiais sem preparo nenhum para exercer suas funções.
E a culpa não pode recair sobre esses policiais apenas, afinal não foram eles
que se escolheram para ocupar o cargo que ocupam (assim, espero eu). O Brasil
já necessita há tempos de uma reestruturação das nossas polícias, começando por
uma reestruturação nos concursos que escolhem esses policiais, melhorando a seleção
deles. Também necessitamos de um maior acompanhamento e cuidado com a polícia,
pois muitas vezes esses homens enfrentam situações que podem causar graves
transtornos (ou piorar os já existentes).
E principalmente, necessitamos urgentemente de uma reestruturação na
ética policial, com melhor treinamento e acompanhamento. O caso da USP foi claramente amparado
por preconceito por parte do policial, não sei se foi ocasionado pela cor da pele do
estudante, mas talvez tenha sido pelo estilo de vestuário dele, como foi apontado por
várias pessoas preconceituosas em comentários no Youtube e em sites que
noticiaram o ocorrido que diziam que o rapaz se vestia como “noia” ou “maconheiro”.
Qual o preparo do policial agressor para lidar com o preconceito que ele
demonstrou? Haverá um acompanhamento do Estado com o policial ou ele
apenas será afastado, talvez exonerado e esquecido?
Já sobre o vídeo do Piauí, qual o preparo da polícia para lidar com
protestos pacíficos, já que nossa constituição protege a execução desses protestos? Eles agiram de maneira arbitrária com os estudantes, que tinham todo
o direito de protestar pacificamente. O que vimos no vídeo foram estudantes
sentados no chão com cartazes levantados e a tropa de choque vindo com suas
balas de borracha e escudos levantados, como se os estudantes fossem oferecer
qualquer risco para eles, sentados no chão. Em certa parte do vídeo, vemos gritos
ofensivos partindo dos estudantes (um erro destes, mas causado pela represália
policial), logo um policial se vira e dispara gás de pimenta contra os que se
encontravam na frente. Eu me pergunto, qual o preparo da policia nesta
situação?
Talvez para manter sua forte presença no quadro internacional e garantir
a segurança financeira numa eventual chegada da crise econômica ao nosso país,
o governo não vá se preocupar em gastar sua verba nas melhorias necessárias
para a polícia. O despreparo destes continuará e, em tempos de internet
fortemente aquecida, algo de pior ainda ocorrerá e será mostrado ao mundo. Vimos
a possibilidade disso no vídeo da agressão ocorrida na Universidade de São
Paulo, quando o policial sacou sua arma contra um estudante desarmado e que não
oferecia risco nenhum à ele. Algo pior poderia ter ocorrido nessa situação e ainda pode
ocorrer em breve. Quando acontecer será tarde demais e ao governo restará apenas
a lamentação.
Essas são coisas que já ocorrem há tempos, mas longe das vistas do grande
público. Infelizmente as camadas mais pobres do Brasil, jamais são alvos de
grandes preocupações por parte da imprensa. A esperança que fica é a de que os últimos
acontecimentos (e talvez os próximos) acabem por gerar uma grande pressão
midiática e popular contra o despreparo policial e possamos ver uma melhoria, como
resultado dessa pressão. Com isso, talvez, as camadas invisíveis da sociedade também
possam se beneficiar de um bom tratamento por parte das nossas forças policiais.
Talvez o governo pudesse investir cada vez mais no rastreio de policiais
pelo GPS, tecnologia cada vez mais barata, que já ocorre em alguns poucos
locais do Brasil e ao redor do mundo, para assim ter um maior controle sobre a atividade desses
policiais e os locais em que eles estão e estiveram.
Em outro vídeo, vemos novamente o despreparo da polícia frente à um
manifestante solitário e pacífico, que conseguiu ainda dar uma grande lição a
policia sobre o seu real papel na sociedade, que já não é executado há tempos:
Peço desculpas aos bons policiais pela generalização deste texto, mas o
descontentamento é tamanho que isso passa despercebido sobre o meu crivo e eu
realmente não vejo formas de descrever tais pensamentos sem utilizar de
generalização.
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Atualizado às 23:43, para corrigir alguns erros de escrita.
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