Nesta quinta-feira (11 de jan. de 2012) o site da revista Carta Capital,
veiculou um texto do cronista Matheus Pichonelli, em que o autor elaborou uma
lista de elementos que, como o autor deixou implícito, definiria um Internauta
moderno, utilizado pelo autor para definir o que popularmente as pessoas chamam
de "pseudo-intelectual".
Alguns elementos utilizados para parecer o “cara legal da internet”
foram:
- “Bater no Michel Teló. Sem dó. Como se ele fosse o Sarney. Todo mundo vai pensar que você morre de saudade dos tempos do sertanejão de raiz, ainda que o mais perto que você tenha chegado de um boi foi naquela visita ao Pet Zoo;”
- “Tenha sempre em seu mural algum auto-retrato pintado da Frida Khalo (serve uma foto em preto e branco) e desenhos estilizados do Tarantino, do Almodóvar, do Che Guevara e daqueles quatro meninos de Liverpool atravessando a zebra de pedestres em Abbey Road. Não é preciso esclarecer a conexão entre eles;”
- “De vez em quando, diga como anda sua vida acadêmica e comemore em letras garrafais quando chegar a formatura. Não se esqueça de dizer que A-M-A a profissão escolhida. No Facebook não existe gente frustada no campo profissional;”
- “Não importa que o Parque Nacional do Xingu fique em Mato Grosso: seja sempre contra qualquer intervenção humana no Pará. Se não colar, lembre também que o País da corrupção não está pronto para receber eventos do porte de uma Copa, uma Olimpíada, um Cirque du Soleil;”
Entre outras coisas, o autor também falou sobre certos tipos de gostos
musicais, que devem constar na sua lista para ser um “cara legal da internet”, citando músicos como Chico Buarque e João Gilberto.
Pichonelli cai em contradições em seu texto. Ele crítica os “pseudo-intelectuais”, utilizando argumentos geralmente utilizados por tais “pseudo-intelectuais” para se afirmar. Matheus exibe clichês implicitamente ao criticar os modos de agir do outro, assemelhando-se com frases como: “Você cita Clarice Linspector, sem ao menos conhecê-la”. Bem, não creio que seja necessário conhecer toda obra de um autor para se identificar com certo trecho, que por vezes pode (e deve) exibir um significado para você que difere do significado original proposto pelo autor.
Além disso, o cronista também cai na contradição do gosto. O gosto é algo
relativo a cada pessoa, que também exibe seus desgostos, em contraposição à
eles. Eu tenho meus próprios gostos e os exibo. Se eu gosto de Beatles,
Almodóvar ou Tarantino, eu exijo o meu direito de exibir o meu apreço por tais
artistas. Se eu acho que a Feira Literária Internacional de Paraty é mais importante
do que o final da série Crepúsculo (a qual muita gente anda fazendo contagem
regressiva) e quero exibir meus gostos pela feira, propagandear e talvez atrair
interessados a irem comigo, eu exijo esse direito.
O autor também implícita em seu texto que não deveríamos criticar
gostos alheios, caindo em contradição ao fazer isso no próprio texto. Acredito
que a crítica ao gosto é essencial para gerar discussões sobre tais temas. Assim como o autor criticou diversas atitudes da pessoa, me dou ao
direito de criticar seu texto e gerar um debate sobre isso. Afinal, você
conhece alguma mudança que se iniciou pelo silêncio? Nem a biologia mantém o
silêncio, pois ao gerar adaptações físicas que melhoram o convívio de um ser
com o ambiente, ela está gerando mudanças ao provocar uma alteração em um ser.
E creio que é isso o que as pessoas querem fazer: gerar mudanças ao
provocar. Mudanças que cada uma crê que seria melhor para a sociedade a sua
volta. Mudanças, geralmente condizentes com seu gosto. Podemos ver isso pelo
gosto político que exige mudança na política, pelo gosto cinematográfico que
exige mudanças no cinema, pelo gosto musical que exige mudanças no meio musical
e vários outros. Ao rejeitar isso, o autor ou está rejeitando a mudanças ou
menosprezando o poder do gosto, da voz do povo e das redes sociais, utilizadas para auxiliar
este poder. Esquecendo-se das poucas lições úteis deixadas pelas revoltas
árabes em seu início, que foi possível, principalmente, por tais redes sociais (mesmo que as revoltas não tenham trazido uma mudança tão "boa" assim).
Claro que caímos na problemática da importância de cada tema. A política
seria mais importante que a música, segundo a minha concepção. Algumas pessoas
podem pensar o contrário. Mas isso jamais vai subjugar dois fatos: o de que
algo mais importante não torna algo menos importante inválido e, também, o de
que uma pessoa pode atuar criticamente sobre duas ou mais óticas ao mesmo tempo, seja
criticando a política e a música, a moda fashion e o cinema, o direitos dos
animais e os direitos humanos, etc.
Outra coisa ainda feita pelo autor é negar o bom humor das pessoas, já que as maiores crítica ao gosto alheio vem em forma de humor, principalmente as relacionadas ao entretenimento, como Michel Teló e BBB. Com isso ele também acaba indo contra o meu pensamento de que o único limite do humor é a falta de graça.
Outra coisa ainda feita pelo autor é negar o bom humor das pessoas, já que as maiores crítica ao gosto alheio vem em forma de humor, principalmente as relacionadas ao entretenimento, como Michel Teló e BBB. Com isso ele também acaba indo contra o meu pensamento de que o único limite do humor é a falta de graça.
E respondendo a uma afirmação do mesmo, feita em tom de ironia, sim, depois do Facebook ficou muito mais fácil manifestar nossos engajamentos e bons gostos pela internet, principalmente por que cada pessoa acredita que seu gosto é bom (algo normal, já que se uma pessoa crer que seus gostos são ruins, há algo de muito errado com ela). Também por que o Facebook imita e, por vezes, aumenta a dimensão das coisas que já ocorrem no ambiente real. O Facebook pode, ainda, ter o poder de gerar atitudes na pessoa que não seriam as mesmas que ela teria na vida real e se isso é positivo ou negativo (Além de gerar ótimos debatedores, também gera os Trolls da internet), cabe a cada um decidir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Qualquer comentário com ofensas pessoais poderá ser apagados. Opine a vontade.