HACKERS SOCIALISTAS

Grupo Anonymous apresenta uma filosofia socialista, em que as glórias de seus feitos são direcionados
diretamente ao coletivo e não apenas ao indivíduo.

Quando em 1999, Jonathan James, invadiu os computadores do Departamento de Defesa dos Estados Unidos e o sistema informático da NASA, ele nada mais queria do que o mérito e a glória do seu nome. O jovem, na época com 15 anos, conseguiu quebrar dois dos sistemas de computadores mais seguros do mundo e, quando teve seu nome envolvido em um grande roubo de dados de várias lojas virtuais, em 2008, suicidou-se por não acreditar em um sistema que não percebia que ele não tinha interesse naquilo.

Quando Jon Lech Johansen quebrou o sistema de proteção de DVD’s e liberou a fórmula gratuitamente para que todos pudessem fazer isso, ele não pediu nada em troca, apenas as glórias.

Quando Françoix Cousteix, de 23 anos, hackeou a conta de Barack Obama no twitter, ele não pediu nada em troca. O “hacker amável”, como ele mesmo se intitulou, queria apenas as glórias.

George Hotz, o jovem que venceu os sistemas de segurança
das poderosas Sony e Apple

Quando George Hotz, aos 20 anos, desbloqueou o console Playstation 3, entrando em guerra judicial com a Sony, fabricante do video-game, por disponibilizar gratuitamente o seu desbloqueador para qualquer um que o quisesse utilizar, ele também não pediu nada em troca. Recebeu as glórias, sendo lembrado até hoje por vencer um dos mais complexos sistemas de segurança já criados. Hotz também é o pai do Jailbreak, o desbloqueador do Iphone OS, também disponibilizado gratuitamente. Apenas a glória de seus nomes.

Hoje, temos o grupo intitulado Anonymous, que além de não pedir nada em troca de seus atos, abdicou da glória pessoal em nome da glória coletiva, mantendo seus integrantes em completo sigilo. Tudo que é feito por esse grupo gera glória para a própria coletividade e mais ninguém.

Tico Santa Cruz defende a livre disponibilização
de músicas.

A filosofia Hacker, como demonstrada por esses exemplos, hoje começa a se alastrar por vários setores. Músicos, como o vocalista Tico Santa Cruz, já disponibilizam suas músicas gratuitamente, enfrentando um forte sistema repressivo por parte das gravadores, que travam uma guerra contra a disponibilização gratuita.

Em tempos de internet, percebemos que essa guerra é inútil. Mas volto-me para outro quesito comparativo dessa filosofia hacker, traçando uma ligação de certo modo perigoso com o socialismo.

A maior defesa do capitalismo hoje, é que, sem o retorno financeiro, não haveria incentivo para o nosso progresso. Por muito tempo, isso pareceu ser uma afirmação correta, mas hoje vemos uma outra linha de pensamento alastrando-se. Em tempos de crise mundial, a glória parece ganhar cada vez mais relevância e, aos poucos, uma mudança de pensamento é percebida. A queda da perseguição irrestrita ao comunismo, no início da década de 90, e a tentativa de efetivação da liberdade de pensamento foi o estopim para essa mudança cultural que enfrentamos.

Essa filosofia Hacker começa a se espalhar para outros meios. Em vários locais do mundo, pessoas começam a criar experimentos de maneira gratuita que visam o progresso. O ataque a Obsolescência Programada é um desses experimentos. Cada vez mais vemos inovações que tentam vencer essa atitude covarde da indústria. Vários Hackers disponibilizam programas gratuitos que aumentam a vida útil da sua impressora facilmente, burlando o sistema que a desativa após 18 mil impressões ou arranjando modos de reparar componentes eletrônicos de maneiras pouco convencionais e criativas.

A indústria, que é quem mais perde com isso, apresenta uma brava defesa contra esse comportamento. A Sony costuma processar qualquer um que abra seus produtos sem prévia autorização. Mas, como disse, é uma guerra inútil. O conceito de comunidade jamais esteve tão forte.

Quando falo isso, é difícil não concordar com uma das frases épicas da série de TV Star Trek: The Next Generation. Em um episódio, Will Ricker é questionado sobre o que os leva a enfrentarem os desafios em uma economia em que a moeda era um conceito inexistente. Sua resposta? Apenas a Glória e o desejo por conhecimento.

Talvez essa filosofia ainda esteja distante da nossa realidade. Mas não é impossível que em algum dia do futura cheguemos a ela. Exemplos atuais sobre pessoas que seguem essa filosofia são inúmeros. Sejam essas pessoas que seguem a filosofia Hacker, ou pessoas que dedicam suas vidas para trabalhar em prol de outras. Todas apenas em busca do reconhecimento e do bem comum.

Tais filosofias podem ser a base para que saiamos do modo de vida egoísta que ainda somos reféns atualmente. Não sei se estarei vivo para observar essa revolução, mas espero que sim. Em uma época em que pensamentos e políticas podem se modificar rapidamente em questão de meses, em que a informação viaja à velocidade da luz e ensaia uma situação em que estará à disposição de todos, nada pode ser considerado como impossível.

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