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3 de maio de 2012

A questão do trote


Em uma universidade em Sorocaba, interior de São Paulo, trote
exige que aluna simule sexo oral com uma banana

O trote é considerado uma tradição nas faculdades e universidades brasileiras. Tradição essa que não pode ser esquecida, segundo defende alguns guardiões dessa tradição pelo Brasil.

Por vezes, as pessoas são colocadas em situações degradantes, que vai contra o seu próprio conceito de dignidade. Mas por que elas se sujeitam a essas situações, mesmo com o trote, na maioria dos casos, não sendo algo obrigatório?

Como um curioso da psique humana, conheço um pouco sobre a psicologia comportamental e tento entender esse comportamento.

A aprovação no vestibular é um elemento de passagem para o jovem. É quando ele sai do ambiente escolar, em que é considerado ainda um adolescente, para adentrar o ambiente acadêmico, onde ele começa a se observar como um adulto. É uma grande mudança comportamental e, como toda mudança, as primeiras impressões são consideradas as chaves para o sucesso nesse novo ambiente.

Avaliado isso, podemos presumir o que se passa na mente de uma pessoa prestes a encarar o seu trote. Obviamente, alguns não costumam ver problemas nessas brincadeiras, não sendo algo que afete essa pessoa ou seu conceito de dignidade. Mas para as pessoas que se sentem afetadas por isso, esse trote é um momento de dúvidas e medos.

Muitas vezes não é algo pelo que ela gostaria de passar, mas esse jovem acaba se sujeitando a tais atitudes, pois o medo das taxações decorrentes da rejeição do trote é imenso. Ela sente que estará chegando a um novo ambiente, em uma mudança brusca da sua vida, e a primeira impressão causada será a de que tal pessoa é “a chata ou frescurenta” que não respeita as tradições, mesmo que essas sejam arcaicas.

Outro fator é o medo de que, após rejeitar a aplicação do trote, a pessoa seja rejeitada pela nova comunidade que agora habita. O temor da solidão nesse novo ambiente, que seria causada pela impressão de “chata” causada pela negação, como explicado no parágrafo anterior.

Todos esses argumentos podem parecer fracos, quando observados com um maior grau de análise. Mas vale frisar que, em um jovem prestes a receber um trote, essa análise acaba ocorrendo em uma fração de segundo. Certamente não sendo o tempo necessário para que ela perceba a fragilidade de seus temores.

Além disso, o medo e o nervosismo desses momentos prévios podem acabar por fragilizar a capacidade analítica desse jovem, sendo outro fator determinante para a aceitação do trote degradante.

Tudo isso, apenas levando em consideração o trote voluntário. Mas cabe lembrar que também existe o trote forçado, que tem uma capacidade muito maior de ferir moral e psicologicamente a vítima, que, sente-se acuada, em um ambiente desconhecido em que acaba ocorrendo um enfrentamento com um grupo conciso de veteranos, já acostumados com o novo ambiente.

Atualmente, muitas faculdades têm recorrido ao trote solidário como forma de manter essa tradição adaptada a realidade e conhecimento atual, levando em consideração as novas formas e conceitos que a nossa sociedade vem incorporando. A doação de sangue e trabalho voluntário surgem como ótimos métodos alternativos ao velho trote.

Talvez os trotes leves, como a pintura de rosto e corpo, ainda possam ocorrer em nosso tempo, tomando sempre o devido cuidado para manter-se a integridade física e moral, além de se respeitar o conceito de dignidade de cada um.

O trote violento e arcaico já não tem lugar em nossas faculdades e universidade. Por muito tempo ele serviu como um ritual de passagem ao jovem, mas era outra realidade. Uma realidade que ainda não possuía o conhecimento e conceitos que possuímos atualmente.

Como dizia o músico Humberto Genssinger, “Apenas a mudança é permanente”. Chega-se ao momento de quebrar tradições antigas, adaptando-as ao nosso tempo. A mudança faz-se necessária quando observamos aquilo tudo que sabemos hoje sobre o comportamento e a dignidade humana.
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